“Minha primeira luta de vale tudo foi com o Marco Ruas, mas eu já tinha feito várias apresentações dentro da academia porque o Carlson (Gracie) me colocava para fazer esses combates. Acabei criando muita experiência de combate contra essas outras artes marciais, pois como assistente dele era sempre o escolhido.
Daí quando chegou o ano de 1984, o Rolls (Gracie) já tinha morrido em 1982, e esse desafio surgiu por uma desavença entre os representantes mais novos da família Gracie com o sobrinho do (Flávio) Molina. Não me recordo exatamente o que causou a desavença, mas aí o Molina fez um grupo de treino para desafiar o Gracie. Ao mesmo tempo estávamos todos meio desmotivados pela morte do Rolls né, e surgiu esse desafio de arrumar uma equipe para ser oponente dos atletas que o Molina escolheu. As lutas precisavam casar, foi difícil!
O Robson (Gracie), na época, era o presidente da SUBEJ, então ele tinha acesso ao Maracanãzinho e deixou o ginásio a disposição para esse evento, com a data já marcada: dia 30 de novembro. Tivemos 20 dias para nos preparar.
Quando o Robson apareceu na academia eu estava lá na hora que ele falou para o Carlson: “eu não tenho ninguém disponível”, então eu me coloquei a disposição e o Carlson me convocou. Tive 20 dias para me preparar.
O Grande Mestre Pinduka falou que o desafio terminou 2x1 para a equipe do Jiu-Jitsu. E ainda comentou como foi a chegada e o clima por lá.
“Eu estava tranquilo, apesar de que o clima estava meio acirrado, teve briga na rua, briga em volta do tatame, teve um destempero muito grande, briga no vestiário, tinha o pessoal da luta livre com sua galera, o pessoal do Jiu-jitsu também com seus defensores. Foi um confronto um pouco desagradável para um evento esportivo, um clima meio de guerra.
Mas eu estava tranquilo, sabia mais ou menos o que eu tinha que fazer, já tinha experiência, já estava com 32 anos na época, tinha uma bagagenzinha que dava para segurar a onda, apesar de não estar bem treinado pelo pouco tempo, fui para o combate.
Mas apesar desse combate histórico entre a Luta-livre e o Jiu-jitsu, a rivalidade entre os dois esportes continuou ainda por um tempo.
Inclusive eu já era formado em educação física e estava com a ideia de colocar o jiu-jitsu na Universidade Gama Filho como disciplina. Mas a primeira barreira que esse projeto enfrentou foi quando os reitores citaram justamente essa situação do Jiu-Jitsu versus o vale-tudo. Eles alegaram que o Jiu-jitsu não tinha fundamentação educacional para entrar na universidade por causa dessas brigas e desse alarme todo.
Esse recorte de jornal falado que o jiu-jitsu era uma luta violenta, e eu levei muito tempo para fazer essa comprovação, pesquisa, estudo, para colocá-lo como disciplina, e apenas consegui depois de dez anos de esforço. Conseguimos transformar o jiu-jitsu como matéria na universidade, como uma disciplina eletiva né, e ainda assim isso formou um transtorno muito grande. Até que em 1991 teve a revanche.
Só depois da revanche que acalmou um pouco os ânimos, as pessoas se entenderam mais. Mas aí depois teve um outro episódio do Rickson (Gracie) com o (Hugo) Duarte na praia. Os dois brigaram e o Duarte ainda se sentiu atingido pela situação que foi criada, aí invadiu a academia do Rickson com uma galera, saíram na mão de novo lá.
"Mas hoje isso acabou, todo mundo é amigo por causa do MMA, por causa da profissionalização da luta."
Então todo mundo passou a receber dinheiro aí teve como melhorar o comportamento para poder virar um profissional de luta né, pra ter uma rivalidade um pouco mais saudável.
O Grande Mestre Pinduka ainda foi responsável por se dedicar fielmente a levar a modalidade Jiu-jitsu para dentro do ambiente acadêmico, com o objetivo de gerar ainda mais relevância para o esporte.
Passei a levar o jiu-jitsu pra universidade, pesquisar os benefícios dele como uma atividade educacional, uma atividade que pode trazer benefícios pessoais pra o praticante, como o estudo da biomecânica, estudo das alavancas, a possibilidade de ter uma capacitação cardiovascular, cardiocirculatória mais equilibrada, a tua mente dentro de um processo de equilíbrio...
Eu comecei a desenvolver além de campeões, a formar alunos que disputam campeonatos. Procurei desenvolver a parte mais educativa que pude, pesquisando todos os benefícios do jiu-jitsu para trazer pessoas que não tinham o intuito da competição, pessoas que eram trabalhadoras urbanas, que faziam dez, doze horas de jornada de trabalho, também pudessem usufruir do jiu-jitsu como um mecanismo de saúde, então eu fui muito bem-sucedido nesse aspecto. E aí comecei a trazer empresários para a minha academia, profissionais liberais, advogados, médicos, que por vezes chegavam exaustos em casa, e com a prática do jiu-jitsu eles se equilibravam.
Nada é melhor do que sair de uma jornada diária de trabalho, vestir um quimono e exercer uma luta de chão ou um movimento de defesa pessoal. Então os caras chegam, põe um quimono e e depois chegam em casa muito mais tranquilos.